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quinta-feira, 12 de maio de 2011

Ter ou não namorado?


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil por que namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrimas, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado é mesmo difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem quer se proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia, pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira, basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado não é quem não tem amor, é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter um namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado que transa sem carinho, que se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e que ama sem alegria. Não tem namorado que faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar. Não tem namorado que não sabe o valor de mãos dadas, do carinho escondido na hora em que passa o filme, de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhadas quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário. Não tem namorado que não gosta de dormir agarrado, fazer sesta abraçado, fazer compras junto. Não tem namorado que não gosta de falar do próprio amor, nem ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado que não redescobre a criança própria e do amado e sai com ela para parques, fliperama,beira d’água, show de Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonho ou musical do metrô. Não tem namorado que não tem música secreta com ele, que não dedica livros, que não recorta artigos, que não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado que ama sem gostar, que gosta sem curtir, que curte sem se aprofundar. Não tem namorado que nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, de madrugada ou no meio dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado que ama sem se dedicar, que namora sem brincar, que vive cheio de obrigações, que faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado que não fala sozinho, não ri de si mesmo e que tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternuras escove a alma com leves fricções de esperança.
De alma escovada e coração escovado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passar debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de conto de fadas.
Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente começar a fazer sentido.



 Artur da Távola.

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